"Transformar pela escrita..."

"Transformar pela escrita..."
"Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião.Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar." (Nelson Mandela)

quarta-feira, 22 de julho de 2009

O ANJO DA SINALEIRA

Ele não é como os outros anjos. O semblante sério, olhar distante e pensativo, não transmitem ternura e tão pouco pureza. É um ser solitário, que parece não ter sonhos, preso em desilusões e falta de esperanças. No rosto, um ar de ressentimento e amargura. Possui pele negra, cabelos crespos, cheios e escuros. Fronte larga, sobrancelhas grossas, olhos redondos e escuros, nariz um tanto achatado, porém arredondado na ponta. Dentes brancos e lábios finos, que vez por outra exibem um movimento, que para ele é um sorriso. Com aproximadamente 1,70 m de altura, aparentando 38 anos, corpo magro e andar cansado, o Anjo da Sinaleira, limpa os vidros dos carros, que param na sinaleira da Av. Oceânica, em Ondina, próximo a Faculdade Social da Bahia. Na mão direita, veste uma luva de cor encardida (que um dia já foi branca), empunhando uma garrafinha plástica transparente, cheia de água. Na esquerda, usa pedaços de esparadrapos acima dos dedos, protegendo-os das batidas do pára brisa dos carros, durante o uso do rodo pequeno, com esponja na ponta. Por medida de segurança, usa três cones de listras coloridas como sinalizadores de trânsito, para demarcação do seu perímetro de trabalho. Na mesma faixa, guarda uma lata vazia de tinta suvinil, como reservatório de água, para abastecimento de sua garrafinha. Como uniforme, o Anjo da Sinaleira, usa um capote cinza, por dentro de uma camisa de manga curta, na cor laranja, com listras brancas e azuis luminosas, fixas na altura do seu ante braço e tiras largas e removíveis na cor cinza luminoso, entrelaçadas, formando um X no seu peito e costas. Veste calça cinza e sapatos pretos, já bem gastos, em um número maior que o seu. Em dias de muito frio, usa um gorro de lã preto na cabeça. É também inteligente e ousado, pois se utiliza do jardim da Faculdade como depósito, onde guarda suas ferramentas de trabalho, no interior dum toucheiro de palmeiras . Com passos cambaleantes (talvez por causa do peso dos seus sapatos grandes), e ritmados, o Anjo da Sinaleira percorre a faixa de 100 metros, recebendo uns trocados, enquanto limpa os vidros dos carros. Possui ainda uma mania ou talvez seja reflexo do seu nervosismo. Coça, coça o seu quadril o tempo todo, que agonia. “Cuidado moça”, num grunhido rouco nos alerta ao atravessar a pista. “Pode vim moça”, grita com impaciência, e gesticula com a mão nos chamando, diante do nosso medo de passar na frente dos carros. E é neste momento que ele é o Anjo da Sinaleira.
Adriana Roque dos Anjos Estudante de Jornalismo-FSBA

2 comentários:

  1. Parabéns pelo texto e por sua sensibilidade e percepção. Sua observação está bem empregada e focada no sujeito. Está no caminho certo, agora é só perseguir!!!

    Sandra Mendes
    Secretária SETEMS

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  2. Esse texto eu conheço..rsrsr Arrancou suspiros em sala.Prabéns!

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