"Transformar pela escrita..."

"Transformar pela escrita..."
"Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião.Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar." (Nelson Mandela)

sábado, 25 de julho de 2009

PAIXÃO INCENDIÁRIA

O Estivador é o trabalhador responsável pela carga e descarga de materiais que chegam no interior de contêineres a bordo de navios, ficando ancorados nos Portos . É uma atividade que exige esforço braçal e muita coragem. Muitas vezes, é necessário que este trabalhador se movimente acima de contêineres, empilhados em grandes alturas, à mercê do vento e do desequilíbrio proveniente da instabilidade, por conseqüência do movimento dos navios no mar. Orlando Alves dos Santos é Estivador do Porto de Salvador, mas já faz alguns anos que está aposentado. Quando na ativa, Orlando Alves não era diferente dos demais trabalhadores. As atividades que exercia no Porto eram bastante arriscadas e, talvez seja por isso, que a grande maioria dos Estivadores tinham e ainda têm o costume de manter casos amorosos com várias mulheres ao mesmo tempo. A essas mulheres chamam de “fogões”, decerto por elas aquecerem seus corpos e seus corações depois de um dia de labuta e grande perigo no cais do Porto. Orlando Alves, Estivador de porte elegante e voz macia, mantinha relacionamento amoroso com um de seus “fogões”, uma bela mulher, viúva, mãe de alguns menores, pela qual ele nutria um grande amor. A mulher morava no Bairro de Castelo Branco e, como já era de costume, ele sempre ia visitá-la. Nessas visitas, Orlando costumava levar seu uniforme de trabalho, calça e camisa, sujos de graxa e óleo, para ser lavado pela amada. Numa dessas visitas, aconteceu algo inesperado. Orlando Alves seguia feliz e saudoso ao encontro da amada quando, ao se aproximar da residência da mulher, deparou-se com uma cena que abalou todo o seu ser. Testemunhou sua amada sendo beijada por um homem que não era ele. “Na verdade, foi um beijo no rosto mas, naquele tempo, não era tão natural as pessoas se cumprimentarem daquele jeito”, diz Orlando. Cheio de ciúmes e desconfianças, Orlando seguiu para a casa da mulher e lá tiveram uma grande discussão. Não adiantou a bela viúva tentar se defender , dizendo que o homem era um parente e, portanto, não havia motivo para ciúmes . Os ânimos continuaram acirrados e Orlando resolveu ir para sua casa, na Liberdade. Mas, ao chegar, o Estivador não conseguia parar de pensar na cena que presenciara. “Que afronta, desaforo, traição”, pensava ele, com o rosto quente de raiva e ciúmes. Seus olhos brilharam e, naquele momento, Orlando permitiu que a paixão incendiasse suas emoções, ficando cego à razão. Orlando Alves voltou para Castelo Branco mas, desta vez, não foi para conversar. Invadiu a casa da amada, foi até a cozinha e agarrou o galão de querosene que era usado na limpeza de seu uniforme de estiva. Abriu o galão e espalhou o líquido inflamável pela casa toda, depois ateou fogo em tudo e foi embora, não se importando com a presença da viúva e das crianças que estavam na casa. Estava cego e surdo de ciúmes. Felizmente ninguém se feriu. Orlando Alves permanece um homem de grande porte, voz macia e de aparência bem mais tranquila. Seu apelido entre os amigos estivadores é “Orlando Incendiário” e, até onde sei, continua com seus “fogões” aquecendo seu corpo e coração .

Liberdade de Expressão ou Manipulação de Informação ?

O Decreto Lei 972/69 regulamenta o exercício da profissão de jornalista. Sua criação foi e, ainda é, muito importante, porque determina, de forma detalhada, as características e atribuições da profissão, bem como as condições que satisfazem a prática da mesma. O que mais nos chamou a atenção na Lei, e que através de pesquisa, constatamos que está sendo discutido desde o ano de 2001, é do que se trata o artigo 4º item V, que determina que o exercício da profissão de jornalista requer diploma de Curso Superior de Jornalismo, oficial ou reconhecido registrado no Ministério de Educação e Cultura ou em instituição por este credenciada. Acreditamos que este profissional deve ser um mediador da realidade social e não praticar o exercício de sua opinião. E, para ser este mediador, o jornalistal tem de estar munido de bagagem técnica e posicionamento ético, para que a informação possa chegar à sociedade de forma clara, objetiva e imparcial. O Supremo Tribunal Federal (STF), através de seu ministro Eros Grau, defende a obrigatoriedade do nível superior apenas para as profissões que necessitam de conhecimentos técnicos adequados e que a ausência destes conhecimentos expõem a coletividade a fatores de risco, como, por exemplo, o médico, advogado, engenheiro, farmacêutico etc. Nós gostaríamos de acrescentar que um “jornalista”, desprovido de normas técnicas e éticas adequadas, podem, também, incorrer em grave prejuízo à coletividade ou individuos sim! Um exemplo do que afirmamos, foi o que ocorreu na Escola Base, em São Paulo, no ano de 1994. O posicionamento de alguns jornalistas ao planejar, organizar, coletar e divulgar informações ou notícias acerca deste caso foi de uma forma que influenciou a sociedade e, talvez, até a própria polícia, para que acreditassem que os donos da escola e alguns funcionários, fossem, realmente, culpados pelas acusações de molestarem sexualmente as crianças da escola. Depois de algum tempo, o caso foi solucionado e constatou-se a inocência dos acusados. Porém, ficaram sérias seqüelas. Ichshiro Shimada sofreu três enfartes, fuma muito e adquiriu uma fobia grave, tem medo de sair às ruas. Maria Aparecida Shimada faz tratamento psicológico até hoje e mais quatro acusados tiveram que se mudar para o interior de São Paulo. Isto não é causar dano à sociedade ? De que forma as notícias chegarão até nós, se o profissional de jornalismo não mantiver contato e estudo apurado desta estrutura técnica, étnica e moral ? Nós temos uma opinião formada acerca desta discussão. Acreditamos que os donos de empresas jornalísticas, políticos e alguns setores da sociedade estão interessados em produzir falsos jornalistas, ou seja, marionetes suscetíveis às suas idéias. Profissionais que não terão embasamento para argumentar ou debater pela lógica técnica e étnica a forma de se fazer o recorte da realidade . O STF deveria estar preocupado é com a absurda concentração, em mãos privadas, da propriedade dos veículos de comunicação. Não deve ser mero acaso. Isso, sim, é impedimento à liberdade de expressão!
Texto Produzido por mim e pelas colegas Carla Silva, Ludimila, Milena Oliveira e Milena Teixeira
Em trabalho proposto pela Profª Monica Celestino Disciplina de Técnicas de Reportagem
Adriana Roque

RACISMO NO BRASIL

MATÉRIA EXIBIDA NO CORREIO NAGÔ EM 21/07/2009 - Racismo no Brasil Educação e Mídia são as principais responsáveis pela discriminação “A educação no Brasil, vem se utilizando de uma prática que forma indivíduos com um nível de cultura preconceituoso, alicerçado a uma visão de mundo que determina que tudo que é diferente, é errado ou inferior, mas nunca de forma igual”. A explicação é da Professora Ceres Santos, da UNEB, quando então convidada como uma das palestrantes para o Curso Jornalismo Cidadania e Diversidade, oferecido pelo Instituto de Mídia Étnica, em parceria com a Faculdade Social da Bahia. Em ocasião do mesmo Curso, outra convidada, a Socióloga Vilma Reis, afirmou, de forma emocionada. que “o racismo desumaniza”. Essa afirmação se deu após a socióloga ter exposto, para os presentes, dados oriundos de um relatório, no qual uma pesquisa feita pelo Ministério da Saúde, em 2008, revelou que médicos utilizavam menos anestesia em mulheres negras porque tinham aprendido que elas suportavam mais a dor. Essa informação chocou a todos os presentes. Deve chocar também àqueles que não acreditam que existe racismo no Brasil.O Curso mencionado foi dirigido aos alunos do Curso de Jornalismo da Faculdade Social da Bahia (FSBA) tendo como coordenadora a professora da disciplina Redação I, Lílian Reichert Coelho, e que visava capacitar os futuros profissionais da área de Jornalismo para uma mudança de postura, na forma de abordagem a assuntos relacionados a temas como raça e etnia. O objetivo do Diretor Executivo do Instituto de Mídia Étnica, Paulo Rogério Nunes, é que fosse um debate constante em todos os Cursos de Comunicação para que, no futuro, tenhamos profissionais mais comprometidos com o fim das desigualdades sociais. E, por que não dizermos, cidadãos também?Existe outra medida ligada à Educação para reverter o quadro de racismo no Brasil. Um dos primeiros atos do Governo Lula, em 09 de Janeiro de 2003, foi o de assinar a Lei 10.639/03, que institui a obrigatoriedade do ensino da História e Cultura Afro-Brasileiras, dando início a uma conquista do movimento negro em busca de uma educação igualitária, baseada no respeito mútuo e nas diferenças culturais de nosso País. Para que essa Lei atinja o propósito de acrescentar uma nova cultura e o respeito pela raça negra, é necessário preparar os professores com informações suficientes sobre o tema, pois sabemos que os mesmos foram formados sem essa base histórica.Será necessário também editar novos livros didáticos e reformular as grades de graduação e licenciaturas. A implementação de cursos ou disciplinas nas Faculdades com bases fundamentadas voltadas ao estudo e respeito a estas diversidades étnicas, como é o caso do Curso Jornalismo Cidadania e Diversidade, seria de suma importância na formação de futuros profissionais, principalmente àqueles ligados às Comunicações porque, muitas vezes, são vozes carregadas de preconceito e discriminação.Alicerçada a estas propostas, a Educação não será mais uma disseminadora do preconceito racial, mas sim uma base sólida, fundamentada na conquista para uma igualdade étnico-racial, num País que não deveria ser citado como “verde e amarelo”, mas sim como rico em diversidade étnico-racial e cultural. Racismo ainda persisteRacismo, no Dicionário Aurélio, significa: “Uma doutrina que sustenta a superioridade de certas raças. Preconceito ou discriminação em relação a indivíduo considerado de outra raça”. Portanto, partindo deste conceito, podemos constatar que o racismo é a representação de uma desigualdade étnico-racial que atinge o Brasil de forma vergonhosa e assustadora desde o período colonial. A raça negra foi cruelmente massacrada, humilhada e escravizada com base no racismo. Os livros de história contam detalhadamente os episódios de sofrimento e servidão deste povo, mas não expõem a história da África e do povo negro antes da escravidão. Existe uma grande lacuna a este respeito. Os livros didáticos, na sua grande maioria, dão maior ênfase aos episódios de humilhação e dor ocorridos com os negros no Brasil, mas não relatam as conquistas e como era a vida deste povo, quando em liberdade na África. Vale lembrar que, deste continente, surgiram grandes civilizações. A história desta raça, suas origens, cultura e antepassados, merecem respeito e atenção.A criança negra, na escola, só tem acesso à história de seus antepassados como um povo escravo, humilhado e inferior. Então, é compreensível que queira esconder ou anular suas origens e sua cor. Os colegas de classe dessa criança, pertencentes a outras raças, aprenderão o mesmo conteúdo racista, desencadeando todo um processo de preconceito étnico e racial. Em algumas situações específicas, quando ocorre maior atenção e cuidado familiar, baseados no respeito e igualdade racial, o racismo não vai vigorar, pois a formação familiar, se adequada, contribui de forma valorosa no caráter e moral do ser, sendo uma aliada contra esta má cultura imposta pela educação.As escolas ensinam que os negros foram escravos e que, no dia 13 de maio de 1888, a princesa Isabel do Brasil e o conselheiro Rodrigo Augusto da Silva assinaram a Lei Áurea extinguindo assim, a escravidão no Brasil. Mas, a abolição não ocorreu efetivamente, pois, ainda hoje, o negro é visto como subalterno e de raça inferior. E, a principal semeadora desta cultura preconceituosa, é a educação. Adriana Roque dos Anjos Curso Jornalismo, Cidadania e Diversidade

quarta-feira, 22 de julho de 2009

O ANJO DA SINALEIRA

Ele não é como os outros anjos. O semblante sério, olhar distante e pensativo, não transmitem ternura e tão pouco pureza. É um ser solitário, que parece não ter sonhos, preso em desilusões e falta de esperanças. No rosto, um ar de ressentimento e amargura. Possui pele negra, cabelos crespos, cheios e escuros. Fronte larga, sobrancelhas grossas, olhos redondos e escuros, nariz um tanto achatado, porém arredondado na ponta. Dentes brancos e lábios finos, que vez por outra exibem um movimento, que para ele é um sorriso. Com aproximadamente 1,70 m de altura, aparentando 38 anos, corpo magro e andar cansado, o Anjo da Sinaleira, limpa os vidros dos carros, que param na sinaleira da Av. Oceânica, em Ondina, próximo a Faculdade Social da Bahia. Na mão direita, veste uma luva de cor encardida (que um dia já foi branca), empunhando uma garrafinha plástica transparente, cheia de água. Na esquerda, usa pedaços de esparadrapos acima dos dedos, protegendo-os das batidas do pára brisa dos carros, durante o uso do rodo pequeno, com esponja na ponta. Por medida de segurança, usa três cones de listras coloridas como sinalizadores de trânsito, para demarcação do seu perímetro de trabalho. Na mesma faixa, guarda uma lata vazia de tinta suvinil, como reservatório de água, para abastecimento de sua garrafinha. Como uniforme, o Anjo da Sinaleira, usa um capote cinza, por dentro de uma camisa de manga curta, na cor laranja, com listras brancas e azuis luminosas, fixas na altura do seu ante braço e tiras largas e removíveis na cor cinza luminoso, entrelaçadas, formando um X no seu peito e costas. Veste calça cinza e sapatos pretos, já bem gastos, em um número maior que o seu. Em dias de muito frio, usa um gorro de lã preto na cabeça. É também inteligente e ousado, pois se utiliza do jardim da Faculdade como depósito, onde guarda suas ferramentas de trabalho, no interior dum toucheiro de palmeiras . Com passos cambaleantes (talvez por causa do peso dos seus sapatos grandes), e ritmados, o Anjo da Sinaleira percorre a faixa de 100 metros, recebendo uns trocados, enquanto limpa os vidros dos carros. Possui ainda uma mania ou talvez seja reflexo do seu nervosismo. Coça, coça o seu quadril o tempo todo, que agonia. “Cuidado moça”, num grunhido rouco nos alerta ao atravessar a pista. “Pode vim moça”, grita com impaciência, e gesticula com a mão nos chamando, diante do nosso medo de passar na frente dos carros. E é neste momento que ele é o Anjo da Sinaleira.
Adriana Roque dos Anjos Estudante de Jornalismo-FSBA